Epitáfio de um general
Colunista da agência “Alô Comunicação”
Morreu na prisão o general Jorge Rafael Videla, condenado na Argentina a duas prisões perpétuas. Cumpriu só uma, pois não tem duas vidas.
Se ainda tivesse, creio que faria tudo de novo. Morreu com a consciência tranquila de quem cumpre com o dever. Foi condenado porque assumiu tudo que se atribuiu ao Exército durante a guerra em que foram derrotadas duas organizações que pretendiam estabelecer no país um regime igual ao de Cuba.

Testemunhei parte da história real quando eu era correspondente do “Jornal do Brasil” em países do Cone Sul.
O que vou contar está no livro que escrevi e que a Editora Globo lançou em 1990 e teve 12 edições, inclusive com várias semanas na lista dos mais vendidos. Nenhuma revelação de agora, portanto.
Conheci o general Videla numa recepção na embaixada do Brasil, em 1975. Era general- de- brigada, sem comando, e, na conversa, disse que Brasil e Argentina desperdiçavam energias com a rivalidade, já que o verdadeiro inimigo estava dentro da Argentina, matando o povo para aterrorizá-lo e tomar o poder, aproveitando-se do governo fraco da viúva de Perón.
Católico praticante, ia à missa com comunhão todos os dias. Foi “carola” até nos filhos: nove.
Alto e magro, tinha o apelido de Pantera-cor-de-rosa.
Reencontrei-o um ano depois, quando eu cobria o encontro de Exércitos das Américas, em Montevidéu. Ele já era comandante do Exército.
E me confidenciou:
“Olhe, hoje há uma guerra interna na Argentina. Mas uma guerra estranha, em que apenas um lado está lutando: o lado da guerrilha e dos terroristas do ERP e dos Montoneros.
Em breve, eles dominarão a Argentina e o Cone Sul, se não houver uma reação. Vai ser preciso entrarmos nessa guerra. Vai correr muito sangue. Pode ser o meu sangue ou de alguns de meus nove filhos. Mas será preciso correr sangue, ou não teremos paz”.
Em 24 de março de 1976, ele tirou a presidente fraca sob o aplauso da nação, entrou na guerra e venceu.
Ameaçado, dez dias antes eu me mudara para Brasília, depois de ter sido sequestrado pelos Montoneros – a extrema esquerda – e perseguido de morte pela Triple A, a extrema direita. A partir de então, deixei de testemunhar os acontecimentos na Argentina.
Agora leio as notícias da morte de Videla. Dizem que morreu de hemorragia causada por uma queda na prisão. E todas as notícias o responsabilizam por conduzir uma “guerra suja”. Ora, a “guerra suja” já existia.
Uma bomba posta na lanchonete perto de meu escritório na Florida obrigou os bombeiros a lavar com mangueiras o sangue na rua. Metralhavam filas de ônibus para que o povo os respeitasse pelo terror. Tinham metralhadoras antiaéreas tchecas no território liberado de Tucuman; sequestravam e torturavam até a morte as suas vítimas. Mantinham tribunais revolucionários com execuções em seguida. Videla, então, entrou nessa “guerra suja”.
E venceu. Não o perdoam por ter impedido um regime totalitário marxista na Argentina. Quanto à “guerra suja”, pergunto: que guerra não é suja? Nem mesmo as dos exércitos do papa. O lado aliado, na II Guerra, não relata a sujeira porque a história é escrita pelos vencedores. Menos por estas bandas.
Rafael Videla foi o nosso Hitler. Nem dez vidas pagaria os crimes que cometeu covardemente na Escola Mecânica, hoje símbolo da tortura e do suplício.
ResponderExcluirUna pregunta... voce é argentino? alemão? judeu?
ExcluirEntre a sua opinião e o relato do Alexandre Garcia, fico com o último.Por que? Por estar embasado em fatos, testemunho.
Como é que pode criticar o general e enaltecer outro argentino criminoso, assassino como Che Guevara? Os irmãos catastróficos, de Cuba?
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