As Copas de 2014.
São duas as copas de 2014. Por isso a denominação de Copa das Copas. Em junho iniciará a do Espetáculo e, pasmem, a do Legado iniciou em 2008, quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo.
A Copa do Espetáculo exigiu prover tudo o que a FIFA impôs. Os agentes envolvidos na realização desse evento esportivo (governo, empresários, urbanistas, arquitetos, representantes de entidades de classe e associações comunitárias) já não asseguram que os megaprojetos serão permanentes.
Só é possível afirmar que, no dia 13 de julho, cerca de 78 mil pessoas estarão confortavelmente instaladas no Maracanã para presenciar a final da 20ª edição da Copa do Mundo. Em vez de se focar nos benefícios e oportunidades que esse grande evento poderia trazer para o país em termos de infraestrutura, a direção tomada foi a de utilizá-lo para proporcionar grande visibilidade as inaugurações de obras do governo visando as eleições de outubro. Dados os atrasos, o que se viu, e ainda se vê, é todo mundo trabalhando para entregar para a FIFA obras semiconcluídas ou improvisadas, para a realização da Copa das Chuteiras.
A Copa do Legado, que deveria ser entregue ao povo brasileiro, ficou para as calendas. Mostremos. O governo já não consegue transmitir a mensagem de que as obras da Copa serão ótimas para o país no momento social em que a população brasileira está mais atenta do que nunca, ou seja, foi-se o tempo em que o futebol era o ópio do povo e a plateia comparecia só para assistir. Agora é bem diferente. Pelas redes sociais, a população questiona os gastos, a segurança, a infraestrutura e está apreensiva com os protestos que poderão ocorrer nas grandes cidades.
Demonstra vergonha de mostrar ao mundo, durante o decorrer dos jogos, as fragilidades do nosso país e do nosso governo. Essa percepção se comprova também com dados: uma pesquisa divulgada recentemente pelo Datafolha apontou que, em novembro de 2008, 79% dos brasileiros entrevistados eram favoráveis à realização da Copa do Mundo no Brasil. Em fevereiro deste ano, o índice caiu para 52%. O sonho do governo de utilizar politicamente a Copa do Mundo nas eleições de 2014 ruiu, mas ainda lhe traz benefícios pois, de 12 de junho a 13 de julho, haverá o arrefecimento do intenso bombardeio que a presidente Dilma Rousseff tem vivido nos últimos tempos por conta das denúncias de irregularidades envolvendo a Petrobras, das ameaças de racionamento de energia, da inflação alta e da sua queda nas pesquisas de opinião.
A presidente ganhará um alívio temporário para repensar as linhas mestras da estratégia da sua reeleição, que é chacoalhada pelo slogan “Volta Lula” toda vez que pisa na bola. Esse período de 32 dias de jogos também servirá para o ex-presidente Lula, que tem agenda de candidato, staff de candidato, comitê de candidato e diz que não é candidato, decidir se, ou quando, anunciará que concorrerá nessa eleição. Sua campanha, até o presente momento, é ambivalente, serve a qualquer candidatura do partido, principalmente à sua. A hipótese de que ele e a presidente Dilma já estão combinados poucos acreditam. Passada a festa, ninguém arriscará prever quem será o próximo presidente do Brasil.
O que determinará o resultado das urnas serão as questões de sempre: a economia, a corrupção, os serviços públicos e a criminalidade, não o fato de o Brasil ser ou não o hexacampeão ou de a Copa do Mundo ter sido uma maravilha.
Antonio Assiz Carvalho Filho é doutor em Estatística e Experimentação Agronômica pela USP, professor e pesquisador da FCT/Unesp – contato: assiz@fct.unesp.br Twitter: @antonioassiz1
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