Este artigo é de 1 ano atrás, mas é valido e atual pelo testemunho de quem viveu aquele momento. Confira.
Dou-me o direito de discordar (Comissão da "Verdade")
Sobre isto:
Como ex-integrante de dois desses grupos que alinharam contra o regime militar, no final dos anos 1960 e início dos 1970, posso dizer, com pleno conhecimento de causa, que NENHUM de nós estava lutando para trazer o Brasil de volta para uma "democracia burguesa", que desprezávamos.
O que queríamos, mesmo, era uma democracia "popular", ou proletária, mas poucos na linha da URSS, por nós julgada muito "burocrática" e já um tantinho esclerosada.
O que queríamos mesmo, a maioria, era um regime à la cubana, no Brasil, embora alguns preferissem o modelo maoista, ainda mais revolucionário.
Os soviéticos -- e seus servidores no Brasil, o pessoal do Partidão -- eram considerados reformistas incuráveis, e nós pretendíamos um regime revolucionário, que, inevitavelmente, começaria fuzilando burgueses e latifundiários. Éramos consequentes com os nossos propósitos.
Sinto muito contradizer quem de direito, mas sendo absolutamente sincero, era isso mesmo que TODOS os desses movimentos, queríamos.
Essa conversa de democracia é para não ficar muito mal no julgamento da história.
Estávamos equivocados, e eu reconheço isso. Posso até dar o direito a outros de não reconhecerem e não fazerem autocrítica, por exemplo, dizer que nós provocamos, sim PROVOCAMOS, o endurecimento do regime militar, quando os ataques da guerrilha urbana começaram. Isso é um fato.
Enfim, tem gente que pode até querer esconder isso.
Paulo Roberto de Almeida
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Addendum em 21/05/2012
A revista Veja, em sua edição do sábado 19 (data de capa 23/05/2012), reproduziu trecho desta postagem, desta forma:
A
presidente Dilma Rousseff empossou nesta quarta-feira, em Brasília, os
sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade, grupo de trabalho que
irá apurar violações de direitos humanos durante a ditadura militar,
entre os anos de 1946 e 1988. Com voz embargada, a presidente negou que o
colegiado busque “revanchismo” ou a possibilidade de “reescrever a
história”. Ex-integrante da organização clandestina VAR-Palmares, a
presidente se emocionou ao relembrar os “sacrifícios humanos irreparáveis” daqueles que lutaram pela redemocratização do país...
peço licença para discordar.
Como ex-integrante de dois desses grupos que alinharam contra o regime militar, no final dos anos 1960 e início dos 1970, posso dizer, com pleno conhecimento de causa, que NENHUM de nós estava lutando para trazer o Brasil de volta para uma "democracia burguesa", que desprezávamos.
O que queríamos, mesmo, era uma democracia "popular", ou proletária, mas poucos na linha da URSS, por nós julgada muito "burocrática" e já um tantinho esclerosada.
O que queríamos mesmo, a maioria, era um regime à la cubana, no Brasil, embora alguns preferissem o modelo maoista, ainda mais revolucionário.
Os soviéticos -- e seus servidores no Brasil, o pessoal do Partidão -- eram considerados reformistas incuráveis, e nós pretendíamos um regime revolucionário, que, inevitavelmente, começaria fuzilando burgueses e latifundiários. Éramos consequentes com os nossos propósitos.
Sinto muito contradizer quem de direito, mas sendo absolutamente sincero, era isso mesmo que TODOS os desses movimentos, queríamos.
Essa conversa de democracia é para não ficar muito mal no julgamento da história.
Estávamos equivocados, e eu reconheço isso. Posso até dar o direito a outros de não reconhecerem e não fazerem autocrítica, por exemplo, dizer que nós provocamos, sim PROVOCAMOS, o endurecimento do regime militar, quando os ataques da guerrilha urbana começaram. Isso é um fato.
Enfim, tem gente que pode até querer esconder isso.
Mas eles não têm o direito de deformar a história ou mentir...
Paulo Roberto de Almeida
Addendum em 21/05/2012
A revista Veja, em sua edição do sábado 19 (data de capa 23/05/2012), reproduziu trecho desta postagem, desta forma:
O
sociólogo Paulo Roberto de Almeida, que pertenceu a grupos de
insurreição armada contra o regime militar brasileiro, colocou a questão
com muita clareza:
"Como
ex-integrante de dois desses grupos que se alinharam contra o regime
militar, posso dizer, com pleno conhecimento de causa, que nenhum de nós
estava lutando para trazer o Brasil de volta para uma 'democracia
burguesa', que desprezávamos. Nós pretendíamos um regime revolucionário,
que, inevitavelmente, começaria fuzilando burgueses e latifundiários."
Essa
é a verdade. É uma afronta à história tentar romantizar ou edulcorar as
ações, os métodos, as intenções e as ligações com potências
estrangeiras dos terroristas que agiram no Brasil durante o período
militar.
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