Não sei se o ex-deputado e agora desembargador pretende dar calote na
dívida pública, mas o fato é que ela é grande justamente devido a
personagens como ele, e tudo o que representam. São esses homens que
fizeram a dívida ficar grande.
Uma conta muito fácil de entender
“A
cada dia morrem 20 crianças no Brasil, vítimas de doenças causadas pela
falta de um simples esgoto ou de água tratada – isto dá uns três Airbus
lotados de crianças caindo por mês”
O Brasil é um dos países mais ricos do mundo – eis aí um fato. No entanto, convivemos com níveis de miséria, criminalidade e
deficiência de infraestrutura absolutamente degradantes. Haveria alguma
lógica nisso? Que tal tentarmos responder esta pergunta com uma simples
calculadora?
Vamos
começar pela fome. Segundo o IBGE divulgou em 2006, 14 milhões de
brasileiros convivem com a fome, e outros 72 milhões estão perto dela.
Daí a ideia do Bolsa Família. Nos últimos seis anos, esse programa
distribuiu R$ 52,7 bilhões para quase 12 milhões de famílias. Enquanto
isso, só em 2008, gastamos R$ 282 bilhões com juros e amortizações da
dívida pública. Faça as contas: em um único ano o Brasil pagou só de
juros 5,35 vezes o que distribuiu aos seus famintos durante quase seis
anos!
Vamos
a outros cálculos: em 2006, destinamos R$ 41 bilhões para a saúde, R$
19,5 bilhões para a educação e R$ 3,9 bilhões para a segurança pública.
Some tudo. Vai dar uns R$ 64,4 bilhões. Pois é: naquele mesmo ano
pagamos só de juros da dívida pública R$ 325,8 bilhões – umas cinco
vezes mais!
Se
alguém ainda não entendeu, sejamos mais claros: os recursos que
destinamos no orçamento de 2006 para custear a Previdência Social, a
assistência social, a saúde, a educação, o trabalho, a reforma agrária, a
segurança pública, o urbanismo, a habitação, os direitos da cidadania, o
desporto e lazer, a cultura e até o saneamento, somados, dão uns R$
317,9 bilhões – R$ 7,9 bilhões a menos do que pagamos só de juros
naquele ano!
Vamos
a um outro exemplo, talvez ainda mais chocante: a cada dia morrem 20
crianças no Brasil, vítimas de doenças causadas pela falta de um simples
esgoto ou de água tratada – isto dá uns três Airbus lotados de crianças
caindo por mês. Com base em custos internacionais, R$ 100 bilhões
seriam suficientes para levar saneamento básico a 86 milhões de
brasileiros, acabando com essa chacina mensal. Nós ainda não tivemos
condições de destinar R$ 100 bilhões para isso. No entanto, entre 1995 e
2008, conseguimos R$ 1,8 trilhão só para pagar juros e amortizações da
dívida pública – umas 18 vezes mais!
Essa
dívida, em 1995, estava em R$ 61 bilhões. Em 2008, alcançou a
assustadora soma de R$ 1,68 trilhão. Por conta disso, mais de 30% dos
impostos que pagamos são gastos só no pagamento dos juros dela –
desconsiderada a emissão de novos títulos para a denominada “rolagem”.
Incluindo estes, não será difícil concluirmos que quase metade do
esforço nacional está sendo canalizado para a manutenção desta dívida,
sobre a qual pouco se fala ou se discute.
Dona Sueli
Sim,
preferimos tratar de temas mais amenos, como os funerais de algum
artista norte-americano ou o escandaloso divórcio de dada atriz
europeia. Eis aí um quadro sério, superior a presidentes e partidos
políticos, fruto da omissão de toda uma geração de homens esclarecidos e
preparados.
Enquanto
isso, alheia a todos estes dados, lá está Dona Sueli sofrendo dia após
dia em um corredor imundo de hospital público, ao lado do marido baleado
durante um assalto, desesperada diante da perspectiva de ter que
sustentar seus dois filhos sozinha na brutal favela onde vivem. Dona
Sueli, como de resto a maioria do povo brasileiro, nunca foi muito
chegada a discussões sobre política e economia. Deveria ser. Afinal,
como dizia Pitágoras, “os números governam o mundo”.
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