"Brasil amanheceu como a Venezuela",
diz Gilmar Mendes
19:24:26
Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) mostrou preocupação com a
solidez institucional do Brasil aos olhos dos países estrangeiros diante
da proposta de constituinte exclusiva da presidente.
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou
duramente nesta terça-feira o anúncio – seguido agora de um recuo – da
presidente Dilma Rousseff que propôs ao Congresso fazer um plebiscito
para discutir a possibilidade de convocação de uma assembleia
constituinte exclusiva para votar a reforma política. Do ponto de vista
da estabilidade das instituições brasileiras, avaliou o magistrado, o
Brasil é respeitado internacionalmente, mas quando propõe medidas
extremas como as anunciadas ontem no Palácio do Planalto, o país se
afasta de nações respeitadas como a Alemanha e se aproxima dos regimes
da Venezuela ou da Bolívia, segundo o ministro.
“O Brasil dormiu como se fosse Alemanha, Itália, Espanha, Portugal em
termos de estabilidade institucional e amanheceu parecido com a Bolívia
ou a Venezuela. Isso não é razoável. Não é razoável ficar flertando com
uma doutrina constitucional bolivariana. Nós temos outras inspirações.”
...
Desde que a presidente Dilma Rousseff anunciou, na tarde dessa
segunda-feira, a possibilidade de se realizar um plebiscito, ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF) entraram em campo e dispararam
telefonemas para os principais deputados e senadores para convencê-los
de que a iniciativa era completamente inconstitucional. Pelo menos
quatro magistrados procuraram líderes do governo e da oposição para
alertar sobre os riscos da proposta da presidente Dilma.
Espanhol - Ao comentar a iniciativa do Palácio do Planalto, o ministro
Gilmar Mendes informou que, juridicamente, não é possível convocar uma
constituinte para funcionar paralelamente à Constituição de 1988. Ao
comparar a proposta do governo com regimes semiditatoriais como o da
Venezuela, Mendes ironizou: “felizmente, não pediram que na assembleia
constituinte se falasse espanhol”.
Na avaliação do magistrado, boa parte das propostas de reforma política
pode ser feita por leis ordinárias, sem a necessidade de se adotar
estratagemas contentáveis para emplacar, por via pouco democrática,
propostas de interesse do governo federal. “Por exemplo, a questão das
coligações para eleições proporcionais. Por que há tantos partidos no
Congresso? Porque hoje tem-se esse modelo das coligações. Já há algum
tempo se discute a supressão das coligações”, relembrou. Em outros
temas, como na adoção do voto distrital, diz o ministro, bastaria
apresentar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) e aprovar o texto
regularmente no Congresso. Mendes relembrou que temas espinhosos, como a
reforma da Previdência, foram votados pelos parlamentares “sem a
necessidade de se chamar um novo processo constituinte”.
Para o ministro, a adoção de estratégias contentáveis como a da
presidente Dilma Rousseff é resultado da falta de diálogo entre o
Executivo e os parlamentares. “No Congresso, está havendo um
estranhamento devido à ausência do governo federal na articulação desses
temas, o que tem feito com que as questões não se resolvam”, disse.
Fonte: Laryssa Borges/Revista Veja - 25/06/2013
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