Médicos do Sírio e do Einstein abrem clínica particular em Heliópolis
Ocimara Balmant - Agência Estado22 de julho de 2012 | 8h 38
Bem na entrada da favela de Heliópolis, entre uma
agência bancária e uma loja de departamentos, desponta uma clínica
médica que só realiza consultas particulares. Não vale convênio,
tampouco cartão do SUS.
Quem passa ali, estranha. Muitos moradores custam a ter coragem de
entrar. Só perdem o medo na medida em que o boca a boca se espalha ou
quando leem um cartaz bem à frente do portão que informa, em linguagem
clara e direta, o valor das consultas: R$ 40 para clínico-geral e R$ 60
para qualquer uma das dez especialidades oferecidas, que pode ser
dividido em duas parcelas.
"Quem disse que essa população não pode ir ao médico particular?",
questiona o criador do Dr. Consulta, Thomaz Srougi. Ele se refere ao seu
público-alvo: gente sem plano de saúde e cansada das filas dos postos
públicos. O perfil exato dos moradores da maior favela da cidade.
Para atendê-los, a estrutura é simples, porém bem equipada. Nos
consultórios - separados por divisórias de fórmica e com cadeiras de
plástico -, há equipamentos caros, como o usado em exames oftalmológicos
e o de ultrassonografia, além do eletrocardiograma. Em casos mais
sérios, em que seja necessária a internação, os pacientes são
encaminhados ao hospital público.
O atendimento é feito por uma dúzia de médicos, todos formados em
universidades conceituadas e integrantes do corpo clínico de hospitais
de ponta, como o Sírio-Libanês e o Albert Einstein. O diretor da
clínica, por exemplo, é Cesar Camara, indicado por Miguel Srougi, um dos
urologistas mais conceituados da cidade e pai de Thomaz.
Na quarta-feira passada, Cesar saiu de Heliópolis e tomou o metrô
Sacomã em direção ao Sírio, para atender um dos seus pacientes. Em seu
consultório, a consulta custa R$ 450, sete vez o que pagou cada um dos
dez pacientes atendidos naquela tarde.
"Engajei-me no projeto porque consigo garantir um atendimento
humanizado. Tem consultas em que levo 40 minutos, mesmo tempo que
pratico no consultório particular, o que seria impossível na realidade
dos convênios."
Todos os médicos dali já haviam atendido por planos privados e
recebem em Heliópolis o mesmo que ganhariam em um convênio: cerca de R$
40 por hora. A diferença é que estão livres das conhecidas metas de
atendimento que encurtam as consultas a cada dia. "Selecionamos os
médicos por esse perfil humanizado. É importante serem egressos das
melhores universidades, mas isso não basta", diz Cesar.
De longe.
Mesmo que a maioria do público não se atente ao nome
do Sírio-Libanês costurado no jaleco do urologista - "a população daqui
nunca ouviu falar do hospital", brinca Cesar -, já começa a pipocar por
ali um ou outro paciente vindo de longe. Dia desses, Cesar atendeu um
homem que havia se locomovido do Paraíso (bairro de classe média alta e a
pelo menos meia hora de distância, de carro).
Se a pessoa tinha ou não dinheiro para pagar mais pelo atendimento,
não interessa, diz Thomaz. "Essa procura é boa. Sinaliza que há muito
espaço de crescimento."
Desde sua inauguração, em agosto de 2011, a clínica tem crescido 40%
por mês e hoje realiza 600 procedimentos a cada 30 dias.
A conta ainda
não fecha porque houve investimento de cerca de R$ 1 milhão em
estrutura, mas a receita tem aumentado à medida que a população descobre
o local. Dos 300 mil habitantes da microrregião, só 10% conhecem a
clínica, segundo pesquisa encomendada por Thomaz.
Nos sonhos do administrador, ele vê uma clínica em cada um dos 96
distritos da capital. Só para garantir o público, as próximas unidades
devem ser instadas em bairros periféricos, como Itaquera e São Miguel
Paulista, na zona leste. "Inspirei-me em projetos parecidos em países
como Guatemala e México. Testei, adaptei e agora quero crescer, sempre
seguindo essa lógica simples, de gerar renda ao mesmo tempo em que
agrego um valor muito importante à população."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Dr.Consulta -
Thomaz Srougi, diretor geral do Dr. Consulta, e Dr. Cesar Camara, urologista
DANIEL TEIXEIRA/AE
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