Em 2008 o homem apresentou-se candidato à presidência sem ter uma só
realização em seu currículo, sem mostrar um único documento de
identidade válido e trazendo uma história de vida mais que nebulosa,
repleta de ligações íntimas com agentes soviéticos, radicais islâmicos,
terroristas e gangsters.
Não havia rigorosamente nenhum motivo para que alguém em seu juízo
perfeito confiasse nessa criatura. Muito menos para supor que um aluno
fiel e devoto de Saul Alinsky e Frank Marshall Davis fosse fazer na
presidência algo de muito diferente daquilo que eles lhe haviam
ensinado: corromper o Estado democrático para destrui-lo por dentro,
substituindo-o pouco a pouco pelo governo tirânico de uma elite
descarada, voraz e infinitamente presunçosa.
Naquele mesmo ano a colunista americana Debbie Schussel divulgou o
alistamento militar grosseiramente falsificado, prova cabal de que o
candidato era um criminoso chinfrim, sem qualificações para obter uma
licença de porte de arma ou mesmo um emprego de balconista do Walmart. O
tipo ideal, enfim, para tornar-se a gazua com que as forças inimigas
planejavam arrombar as portas do sistema.
Também logo se tornou público que ele gastava rios de dinheiro para
manter ocultos os seus documentos, exatamente aqueles que, ao mesmo
tempo, o Congresso, Obama incluso, exigia do seu concorrente. Em 2008 já
era possível perceber claramente que, quando esse indivíduo proclamava
“Só quem não quer exibir a verdade é quem tem algo a esconder”, ele
falava dele mesmo.
É inteiramente irracional aceitar e confirmar um sujeito desses na
presidência da república, aplaudi-lo, paparicá-lo e protegê-lo por cinco
anos, brandindo todas as armas da intimidação e da chacota contra os
que ousem pretender investigá-lo, e depois, de repente, mostrar uma
indignada surpresa ante a revelação de que durante esse tempo ele agiu
precisamente de acordo com o que sua personalidade e suas origens
ideológicas deixavam antever.
A folha de serviços ostensivamente prestados por Obama à Rússia, à China,
à Arábia Saudita e aos terroristas islâmicos só se compara à lista de
seus erros alegadamente acidentais cometidos sempre em favor desses
mesmos beneficiários. Juntas, formam uma enciclopédia da mendacidade, da
traição e da indiferença psicopática aos valores morais e patrióticos
proclamados de boca cheia, na voz empostada de um ator bem ensaiado.
Tudo isso é, de fato, muito impressionante. Mas, para quem quer que em
2008 conhecesse a biografia do tipo, nada disso foi surpresa. Só o foi
para os que se deixaram hipnotizar, seja pelo maior blefe
propagandístico de todos os tempos, seja pela ilusão da imunidade do
sistema a qualquer tentativa de subvertê-lo por dentro – ilusão sem a
qual o blefe jamais pegaria.
Tanto pela amplitude hiperbólica das suas promessas quanto pela
ambiguidade da retórica entre sedutora e ameaçadora com que as
anunciava, Obama, de fato, não deixava ao eleitor nenhuma terceira
alternativa entre o fascínio embriagador e a suspeita de um projeto
criminoso que soava, ao mesmo tempo, artificioso demais e torpe demais
para que alguém ousasse tentar realizá-lo.
Pois bem: está realizado. O "sistema" americano não existe mais. O que
hoje ocupa seu lugar é um esquema de poder centralizado que, usando os
órgãos de governo como instrumentos de ataque e a mídia cúmplice como
escudo defensivo, imuniza o presidente contra qualquer tentativa de
obrigá-lo a cumprir as leis e a Constituição.
Nos cinco anos que se passaram desde sua primeira eleição, Obama
declarou guerras sem consulta ao Congresso, duplicou a dívida americana,
distribuiu dinheiro a rodo entre as empresas falidas de seus amigos,
espalhou agentes islâmicos nos altos postos do governo federal, deu
armas e dinheiro aos mais violentos inimigos do país, protegeu e adulou o
Islã por todos os meios ao mesmo tempo que tentava expurgar os cristãos
das Forças Armadas, derrubou dois governos no Oriente Médio para
entregá-los ao poder da Al-Qaeda e da Fraternidade Muçulmana e
transformou o Homeland Security numa polícia armada tão assustadora que
hoje os americanos, segundo as estatísticas, têm mais medo do governo
que dos terroristas.
Em todos esses episódios, a simples insinuação de que ele procedia antes
como um agente inimigo do que como um americano era repelida com tal
violência pelos bem-pensantes, que acabava por morrer como um sussurro
inaudível, abafado no fundo da internet.
Quando o ator Chris Rock exclamou do alto do palco: "Palmas para nosso
Senhor e Salvador Barack Obama!", ele expressou bem a atmosfera de
adoração histérica com que uma nação, de joelhos, implorava ao
governante que a ludibriasse, maltratasse e oprimisse, e jurava jamais
desconfiar dele, fizesse o que fizesse.
O que pode haver de tão inesperado no fato de que, com tão excelsas
garantias de impunidade, Obama se sentisse livre para usar o Imposto de
Renda como um porrete, grampear os telefones de meio mundo e jogar com
as vidas de soldados e funcionários americanos como se estes fossem
peças descartáveis de um jogo banal?
Olavo de Carvalho é ensaísta, jornalista e professor de Filosofia
Diário do Comércio
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Ilustração por conta deste blogue.