Caso Santander mostra como Brasil já se aproxima do bolivarianismo
O presidente do PT, Rui Falcão, afirmou na noite desta sexta-feira (25) que o banco Santander pediu desculpas pelo texto distribuído para correntistas em
que descreve a reeleição da presidente Dilma Rousseff como uma ameaça à
economia. Ele disse que foram feitas demissões na instituição.
“Já houve um
pedido de desculpas formal enviada à Presidência. [...] A informação
que deram é que estão demitindo todo o setor que foi responsável pela
produção do texto. Inclusive gente de cima. E estão procurando uma
maneira resgatar o que fizeram”, disse Falcão.
A militantes do PT do Rio, Falcão classificou o caso como “terrorismo eleitoral”. Mas afirmou que aceita as desculpas do banco.
“Aceito as
desculpas do banco, mas isso não elide o que aconteceu. Isso é proibido.
Instituições bancárias ou financeiras não podem fazer manifestações que
interfiram na decisão do voto.”
Eis o documento que o banco enviou para cerca de 40 mil clientes:
Para quem não lembra, o Santander já passou por situação similar antes, quando demitiu
seu economista-chefe, o ex-diretor do Banco Central Alexandre
Schwartsman, que tinha discordado com veemência do então presidente da
Petrobras em um evento.
Hoje, Sérgio Gabrielli foi condenado
pelo TCU pelo prejuízo de quase US$ 800 milhões causado à estatal na
compra da refinaria no Texas, enquanto Schwartsman tem uma consultoria
independente que tem acertado com precisão vários alertas sobre a
inflação elevada no país.
A decisão de demiti-lo, na época, foi
política: a Petrobras é um enorme cliente do banco, e houve pressão após
o mal-estar causado no debate entre os dois – no qual Schwartsman
estava certo, diga-se de passagem, ao apontar o uso da empresa para fins
políticos e partidários, com sua “contabilidade criativa”.
Falcão, do PT, disse que o comunicado do
banco é “terrorismo eleitoral”, mas a acusação é ridícula! O que os
especialistas do banco fizeram foi nada mais do que constatar, para seus
clientes, o óbvio ululante, que qualquer estagiário da menor corretora
do país já sabe: quando saem novas pesquisas com queda de Dilma, a bolsa
sobe e as ações das estatais disparam.
Ou seja, todos sabem que os investidores
morrem de medo de mais quatro anos de Dilma no poder, e o banco tem,
inclusive, a obrigação moral de alertar seus clientes dos riscos que
enxerga. Política tem muita influência na economia, especialmente em um
país como o nosso, com excesso de poder concentrado em Brasília. Uma
gestão intervencionista e incompetente, como a de Dilma, tem enorme
poder de estrago.
A demissão da equipe responsável pelo
documento – se verdadeira – é um sinal de alerta extremamente grave da
situação em que o Brasil se encontra. Não há mais independência nas
empresas. São todas reféns do governo. Não podem criticar, tampouco
mostrar para seus clientes o que todos já sabem, se isso afetar
negativamente o governo atual. Devem esconder a realidade para não
“ofender” o governante.
Se isso não é autoritarismo à lá Venezuela, então não sei o que é. Hayek já dizia, em seu clássico O Caminho da Servidão,
que sem liberdade econômica acabava a liberdade política. Ele estava
certo. O caso esdrúxulo do Santander, tendo que recuar dessa forma
acovardada e subserviente, comprova isso com perfeição.
Fecho com um alerta de Roberto Saviano, o italiano que enfrentou a máfia, feito em A beleza e o inferno: ”Pergunto
à minha terra se ela ainda consegue imaginar que pode escolher.
Pergunto-lhe se é capaz de realizar, pelo menos, esse primeiro gesto de
liberdade que está em conseguir pensar-se diferente, pensar-se livre.
Não se resignar a aceitar como um destino natural o que, ao contrário, é
obra dos homens.”
Rodrigo Constantino
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